04/04/2019
SONHO SONHOS - Profª. Cirlei Rossi dos Santos
Inspirado na atitude do Diário de Bordo, o Releituras do mês de abril traz como tema de reflexão "sonhos". Que soma conosco na reflexão é a Profª. Cirlei Rossi dos Santos, coordenadora geral do Colégio Vicentino Imaculado Coração de Maria, de Toledo/PR. Profª. Cirlei nos propõe uma releitura criativa e aprofundada de uma fábula.
SONHO SONHOS
Profª. Cirlei Rossi dos Santos[1]
Era uma vez uma formiga chamada Lupi. Ela vivia correndo pelo bosque sem parar, preocupada com seu futuro. Buscava todas as folhas que podia carregar e as transportava para o seu ninho antes do inverno chegar. Seu sonho era poder alimentar-se durante o inverno, por isso aproveitava o verão para trabalhar.
Para a formiga Lupi o trabalho era nobre e o recurso que ela tinha para sobreviver no inverno. O jeito era carregar e acumular grande quantidade de alimento para se esconder em sua casa no inverno e sobreviver até o verão vindouro.
Ao lado do seu caminho existia uma bela e frondosa árvore de Cedro, e lá morava uma cigarra cantadeira. Sua maior alegria era fazer cantoria que de longe se ouvia. A cigarra Max cantava muitas melodias que variavam e completavam o seu dia.
Quando Lupi passava, Max cantava com toda a força de sua voz para chamar a atenção da formiga. Mas, Lupi nem ligava! Para ela o que importava era o que ela carregava. Trazia nas suas costas uma folha de jabuticaba e o que ela mais queria era chegar logo ao seu destino e guardar o seu alimento para garantir sua vida em tempos frios.
Max era persistente e muito determinado. Decidiu descer um pouco no tronco do Cedro e cantar mais perto de Lupi, quando ela passasse. Queria mesmo fazer amizade com a formiga.
Numa bela tarde de sol ouviu os passos da formiga entre as folhas secas do chão e desceu ainda mais no tronco do Pé de Cedro. Bem pertinho do chão começou a cantarolar. Quando Lupi se aproximou arrastando um grão de milho, Max parou de cantar e falou um tímido “oi”. Ficou olhando a formiga passar como se nada estivesse acontecendo, agarrada ao seu alimento, como se a cigarra não existisse. Max continuou em um breve silêncio e reiniciou o seu cantar. Quando Lupi voltava para buscar mais alimento, Max decidiu descer até o chão e se pôs no caminho da formiga para ser visto. Enquanto Lupi se aproximava, Max cantava no meio do caminho da formiga. Lupi parou, olhou, desviou e continuou sua busca num andar acelerado. Parece não ter gostado de ser interrompida, mas nada falou.
Os dias se passavam todos iguais, para Lupi e para Max. Quando, em um dia chuvoso Lupi escorregou e derrubou sua pesada carga embaixo do Pé de Cedro. Max ficou preocupado e parou de cantar, desceu do tronco da árvore e se colocou no caminho da formiga que estava irritada e falou:
— Você poderia, por favor, sair do meu caminho, pois já estou com muitos problemas!
— Calma Lupi, só quero ajudar!
— Pensei que você só soubesse cantar! Disse a formiga.
— Sim, mas posso erguer a sua folha para você passar pela lama.
E assim foi feito. A formiga continuou seu trabalho e a cigarra a cantar.
Contudo, Max estava curioso para entender o que acontecia como a vida da formiga. E Lupi passou a cumprimentar a cigarra toda vez que passava. Isso encorajou Max a puxar conversa:
— Lupi, você gosta de trabalhar?
— Sim e não. Disse a formiga, sem parar de trabalhar e puxando com força sua comida foi se afastando.
Max ficou pensando se a pergunta fosse para si, como responderia.
E assim, o verão passou com a cigarra cantando e a formiga trabalhando.
No início do inverno a formiga se recolheu em seu abrigo repleto de fartura e foi descansar. Logo nos primeiros dias começou a se perceber de forma muito estranha. Lupi estava triste e não entendia os seus sentimentos. Foi num desses dias tristes que Max bateu em sua porta. Quando a formiga atendeu, a cigarra disse que veio para entender a resposta de Lupi. Um tanto contrariada e sem vontade de conversar, Lupi a recebeu. Max percebeu que sua presença era indesejada e quis melhorar o ambiente mostrando preocupação com a formiga.
— Você parece estar triste!
— Sim e não. Disse a formiga.
— Assim você me confunde. Eu entendo que o que pode ser sim não pode ser não.
— São um pouco diferentes Max. Estou alegre porque tenho fartura, estou triste porque sinto que estou só.
— Então, cheguei em boa hora Lupi! Posso lhe fazer companhia.
— Não é por falta de companhia Max, aqui tem muitas formigas. É o meu sentimento que provoca angústia.
— Lupi, será que você brincou pouco?
— Que conversa é essa? Acaso você esqueceu o quanto eu trabalho?
— Não, Lupi! É por isso mesmo que estou falando.
— E você, Max, brincou demais.
Max ficou pensativo com o que ouviu de Lupi. Parecia fazer sentido naquele momento. Após o silêncio perturbador, Lupi retoma o diálogo.
— O que mesmo lhe trouxe aqui Max?
O porquê me trouxe aqui já não faz mais sentido. Entendi algo novo. Eu brinquei demais e você brincou pouco.
Maria acordou em um salto, saiu da cama e entrou no banheiro. Olhou-se no espelho e viu o rosto amassado, cansado, emoldurado por vastos cabelos desalinhados. Que imagem de espanto! Que sonho assustador! Eu brinquei pouco e trabalho muito? O relógio não despertou, estou atrasada, logo na segunda-feira! Isso não poderia acontecer!
MORAL DA HISTÓRIA: E você? Aonde estão os seus sonhos?
[1] Formada em Filosofia, Pedagogia, Psicopedagogia e Trainer pelo ICELP no Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) na Inglaterra. Coordenadora Geral do Colégio Vicentino Incomar. Ocupa a cadeira 25 da Academia de Letras de Toledo/PR. Desenvolve um trabalho de pesquisa na Área da Aprendizagem Humana e na literatura de valores humanos. Página: https://www.facebook.com/Oqueleveiparacasa/
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